terça-feira, 15 de julho de 2014

Cigana



Cigana
Se engana
Em tuas previsões passionais
Jogando tarot na cama
De olhos cerrados
Revirados para trás

Malandro é quem te inflama
Fazendo de ti cigana
Capataz
Mandinga na Cama
Atrai

Pega tua porção e derrama
Não é só teu perfume que fica, malandra
Teu suor já deixou uma mancha
Na vida deste rapaz

Feiticeiro dos olhos de chama
Se engana
Se pensas que agora
É apenas teu corpo que pede mais

Futurólogos de previsões profanas
Enquanto das mangas
Tiravam magias
O futuro acontecia
Fazendo-os reais.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Tara




São dos teus pelos que eu gosto
Pelos caminhos que me levam
Caminho da felicidade

São nos teus peitos que me enrosco
Fazendo nós com os dedinhos
Que me atam
Enraizados em virilidade

É desse teu perfume que quero me impregnar
No teu suor borrifado
Com a língua em teu corpo me envenenar
Embriagada por essa seiva de macho

Nessa barba não desenhada
Mora uma boca que me encara
Morde a minha amordaça
Calada pela sua tara

Essa mão desajeitada
Que alisa, prende, puxa, não para
Como num passe de mágica
Põe-me nua, roupa desatada
Envolvendo minha cintura, eu só penso: Não para.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Garota do tempo



Todas as maravilhas estavam ali
Podia-se sentir o verão
O sol nascia em seu colo e eu nunca o vi dormir
Seu corpo em combustão
Fez folhas secas de outono
Alheios e ocultos desejos sem porvir
Olhos de gracioso porre
Destino ou sorte
Nem dona, nem dono

Seu inverno era para si
Despertava a inveja dos olhares que a queriam despir
Ela deslizava a mão sobre sua própria nudez
Exercitava criativa libido
Transava consigo
Cartógrafa de corpo
Mapeava o seu prazer
Adorava se ter
E, por isso, tinha a todos

Eram primaveras suas paixões
Floridas floreadas

Bem-me-queres e mal-me-queres
Para cada pétala, mil lágrimas
Estação mal definida
Imprecisa data
Notório apenas o seu fim
Pelas folhas secas que deixava
Pelos nãos sufocados de sim

Seu sentir sazonal
Transformava-a no centro de sua própria translação
O tempo dela era autoral
Dependia da estação.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Relicário




Apenas me diga
Que tu foste feliz nas tardes pálidas
Que era verdade
Quando te encontrava me admirando nas madrugadas

Apenas me diga
Que do nosso amor fizeste relicário
Que as fotos e cartas estão em alguma gaveta ou armário

Apenas me diga
Que morrer de fadiga
Não é desmerecimento
Que flores também nascem em meio ao cimento
Que amores-flores
Passadas as dores
Conservam-se em pensamento

Apenas me diga
Faça que eu sinta
Que um amor não é de uma vida
Que o tempo é ficção
Que de todo amor sempre sobra uma lição

Apenas me diga
Que um dia, de mim, saberão os seus netos
Contar-lhes-a sorrindo das promessas bobas e dos planos quase concretos

Apenas me diga
Que o amor modifica
Mas não o afeto
Pronuncia a minha importância
Desmistifica
Dê-me coroa e cetro

Apenas me diga...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Com quantos Eus se faz um ser?



Pedaços de mim ficaram pelo caminho
Um composto decomposto de algodão e linho
São as escolhas que nos despem
A vida não te permite ser Caetano e Led Zeppelin
Paradoxalmente
Crescer é desmembrar-se
Matando o que não seremos
Para sermos o que somos
Diminuir para somar-se
Esquecer o que nem fomos
Sonhar é trocar os sonhos
Ser unidade
É renunciar a sua própria complexidade
Somos também aquilo que não se vê
Com quantos Eus se faz um ser?

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Lágrima de despedida



Escorreu uma lágrima
Eram lembranças da batalha árdua
Ela percorreu o meu rosto
Limpando o resto
Lágrimas do oposto
Cicatriz em manifesto
Molhou minha boca
Que foi calada
Lágrima pouca
Mas salgada
Remédio da ferida
Ardendo inteira
Curei o que um dia foi carne viva
Não, não me fiz de vítima
Digna
Limpei seu rastro
Com essas mãos benditas
Benzidas pela poesia.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Minhas dores do mundo



Eu estou onde estão os aflitos
Os calejados
Sofridos
Eu quero levar paz aos cansados
Vítimas sociais
Marginalizados
Eu sou a mulher que quer liberdade
Sou o menino iletrado
Sou o aposentado que quer virilidade
Sou o homossexual que quer amar livre
Sou o corte antes das cicatrizes
Minhas lágrimas são de sangue
E meu sangue são só lágrimas
Não me acostumo com o injusto
Sou a justiça pasma.