quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Visita do acaso



Quero fazer as pazes com o acaso
Convidá-lo à minha casa
Fazer-lhe um agrado
Que ele traga junto a surpresa
Que ela venha bem humorada
Que não traga a tristeza

Quero fazer as pazes com o acaso
Que ele me olhe com compaixão
Que me retribua os afagos
Quero, na espreita
Após servir a sobremesa
Ouvir dizer a surpresa:
Chegou a hora da colheita

Quero fazer as pazes com o acaso
Pois sei que ele é visita inevitável
Não quero mais o seu descaso
Quero sorrir incansável

Quero fazer as pazes com o acaso
Tudo bem
Pode vir quando necessário
Seja manso
Seja calmo
Desentranha esse perfume barato
Mas não seja a tempestade
A esfacelar o que construí em calcário.

domingo, 24 de novembro de 2013

Amores de domingo



Amores intensos são como domingos
Cama mais aconchegante
Pijama é roupa elegante
Tempo é inimigo
Pode até ser o primeiro
Mas vive-se como o último
Ansiedade em ser inteiro
Necessidade em ser múltiplo
Vira-se touro valente
Flutua-se 
Ninguém bate na gente
Amantes onipotentes
Perante o outro somos fracos
Rompimento causa buraco
O buraco das dores é fundo
Acaba-se o mundo
Mas amanhã é segunda-feira
Benção da renovação
Perde-se um dia
Mas ganha-se a semana inteira.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Superávit



Nossa bolsa de valores deu uma virada
Meu valor subindo
O teu em franca baixa
Aproveitei sim
Investi em mim
Comprei logo minha liberdade
Nunca mais refém das tuas vaidades
Alforria 
Sorria
Longe das tuas dúvidas solitárias
Decisões egoístas e autoritárias
No mercando
Aquele onde vendeste o meu amor tão barato
Descobriram diamante lapidado
Devem ter sido as dores
Se forem
Obrigado
Se foram
Enfim
Fim.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Rastro de dor



Você já sentiu a dor de um preconceito?
Dói no corpo todo
Não dói só no peito
Dói na mulher, na sapatão, no traveco, no viado, no preto...
Corrói relação
Provoca erosão
Divide famílias
Constrói suicidas
Destrói carreiras
Empurrão em ladeira
Acaba com empregos
Leva ao desespero
Não permite a fala
Dispensa apresentação
Olhar que cala
Olhos de reprovação
Nem sempre notado
Muitas vezes velado
Discursos anunciados
Pensamentos não pensados
Está no planalto central e na periferia
Não tem idade e nem etnia
Está nas mãos dos que têm a solução
É lança apontada
Presa sempre ameaçada
Eu já vi o preconceito de perto
E garanto...
É deserto
É dor que nem sempre sangra a carne
Mas a alma...
Essa arde.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Estima



Ela trazia em seu coração espelhos
Seus olhos filmavam meu eu inédito
Muda ela me dava conselhos
E eu cético
De mim mesmo
Olha aqui para o meu peito
Veja-te direito
Suas palavras sopravam neblinas
Espalhou-se o azul dessa menina
Não há mais nuvens lá em cima
E aqui embaixo 
Brilha o sol da autoestima.

sábado, 16 de novembro de 2013

Elo



Eu prometi que aquele era seu termo final
Prometi que você não mais me faria mal
Prometi que tudo o que viria
Transformaria em poesia
Prometi que faria da minha força a palavra
Tal qual um agricultor que a terra lavra
Incessante trabalho de transformação
A dor seria o meu pão
Pois poesia é elo
Entre a dor e o belo.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Amor de infância



No amor você foi minha infância
Ingenuidade de criança
Basta estender a mão que ela pega
Confiança cega
Não pergunta para onde vai
Vê no outro apenas o bom rapaz
Não percebe o potencial ofensor
Não tem medo por desconhecer a dor
Mas a criança ferida por um tempo emudece
Fica distante, adoece
As brincadeiras perdem a graça
O lúdico ela rechaça
Não sabe porque foi ferida
Nem ferramentas tem para ficar ressentida
Toma para si a culpa
Não enxerga a maldade adulta
Amadurecimento forçado
Jovem prematurado
Dois caminhos se apresentam
Ressentimento e moralização se enfrentam
É preciso deixar a bagagem de mágoas para trás
Via única para uma vida adulta de paz.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Dando o tom


Ela escreve nos lábios o seu estado de espírito
Com a boca vermelha
Ajoelha
Está escrito
Agora a boca tem um brilho nude
No deserto das carências, os seus lábios são açudes
Bota um roxo nessa boca
Metade sã, metade louca
Laranja em tom quente
Mexe os lábios e controla mentes
Escolhe um tom pastel
Angelical, me leva ao céu
Pinta ela toda de rosa
Está romântica em polvorosa
Esses tons que deixam marcas
Batons lápis, lábios placas.

domingo, 10 de novembro de 2013

Fora de mim



Sussurros ao pé do ouvido
O manso rouco da sua voz
A barba encostando no rosto
Aos poucos
Desatando nós
Causando arrepio
A boca, por vezes, tocando a orelha
Segredos provocando centelhas
Centelhas transformando-se em faíscas 
Arrisca
Arisca
Um riso safado
Deixando o som da voz entrecortado
Já não sou minha dona
Fraquejada, na lona
Na cama
Nem sinal da dama
Arrisco
Imersa em prazer
Com as minhas unhas te rabisco.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dois em um



O amor é o amanhã a depender
É escolher a dois sem perceber
É esvaziar-se de si
Para deixar o outro vir
É acarinhar-se com o olhar
São segredos a dois estampados na cara
É cumplicidade na fala
Ter com quem contar
É encher-se de coragem
É mudar o foco das vaidades
É o minimalismo maximizado
É risco que se corre despreocupado
Não é sexo, é conjugação na primeira pessoa do plural
São momentos que ficam para a eternidade
Como fotos em um mural
É finalmente saber o que é felicidade.
 



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Melancólica Euforia / Eufórica Melancolia


Vizinha à Euforia
Mora uma senhora não muito agradável
Chama-se Melancolia
Elas não costumam conversar entre si
O verbo que conjugam é o coexistir
Eu coexisto contigo
Tu coexistes comigo
Quando a Euforia, num rompante
Começa a saltitar cantando toda dançante
Vem de lá a Melancolia
Firme, armada até os dentes
Pronta para deixar a Euforia descrente
Mão na cintura e dedo apontado
No olhar ela já lembra o passado
No silêncio ela cutuca a ferida
A Melancolia na redondeza é respeitada
Dizem que, por vezes, ela é necessária
Pois quando a Euforia grita escandalizada
É a Melancolia quem bota ordem
Sua memória é navalha.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Ampères da alma



Apresente-me mais que um belo corpo
Não é suficiente alimentar o meu tesão
É preciso mais para prender minha atenção
É preciso me fazer levitar mais alto que halteres
É preciso me eletrizar na grandeza de ampères
Catalisando o caminho da conquista
Deixando as qualidades à vista
Minha libido não me leva além da cama
Não está aí a combustão da minha chama
Nunca fui de química retórica
Meu ponto G é muito mais simples
Gosto de paixões leves, ingênuas, bucólicas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meu Bem-Vindo



Me bota no colo feito criança
Em meio à multidão, me rodopie, me conduza em uma dança
Olhe-me como se só existisse eu
E faça do meu eu todinho teu
Cure minhas feridas com teus afagos
Diga que tudo aquilo que procuras, sou eu quem trago
Que contigo eu perca o medo do porvir
Sendo alegre e me fazendo rir
Percorra ao meu lado os terrenos acidentais
Conheça meus defeitos, mas, ao fim, peça mais
Conecte minha alma ao meu corpo
Libertando-nos da vaidade que faz amores ocos
Abraços e beijos macios graças a sua leveza
Seja bem-vindo, meu amor
Ensina-me a tua grandeza.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

As Moderninhas



Que Deus abençoe as moderninhas
Elas rasgam os folhetins estampados com as mocinhas
Elas não perdem oportunidades
Não ficam na vontade
São o centro da atenção
Gesticulam com bustos, pernas e mãos
Exibidas
Nada pudicas
Rapazes objetos
Reféns de seus efêmeros afetos
Despreocupadas com a opinião alheia
Seus mundos não têm grades
Não habitam cadeias
Desconhecem o preconceito
Não supervalorizam seus próprios defeitos
Viva as moderninhas
Elas pertencem a elas
Nunca serão suas ou minhas

domingo, 3 de novembro de 2013

A Loba



Você não reconheceria essa louca que me possui
Essa loba que não depende de lua cheia
Uma meretriz que em jogos de perna seduz
A mulher que não prepara a janta, ela é a própria ceia
A puta na cama, no quarto, em cima da mesa
Esses rapazes que testam meu sexo
Lascívia de relacionamentos pouco complexos
Aproveitando uma faceta despudorada
Transas sem carinho, tapas na cara
Pode ser que dure pouco ou uma vida inteira
Só sei que sou dona de mim
Coloca fogo, me incendeia.

sábado, 2 de novembro de 2013

Desjejum



Acordo e teu lugar está vazio
Agora dei para dormir lá
Bruços, lado, barriga para o ar...
Troquei os travesseiros, os lençóis, expulsei teu cheiro
Às vezes ainda sinto sua perna na minha
Ainda acordo com o seu bom dia
E todas as suas matinais manias
O café da manhã ainda é o mesmo preparado pela gente
Mas sem beijo misto e quente
Um dia canso de te esperar
Com a saudade eu sempre soube lidar
E aí que venha outro alguém para dizer que ama
Renovando aquela que um dia foi a nossa cama.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Duas faces, uma mesma moeda



Eu sou seu lado saudável
Sou encontro e divisão de águas
Mudança de paradigmas
Sou lembrança memorável
Sua chance de nossa vida digna
Mas é fácil perder o caminho quando a luta é consigo mesmo
Elas te levam para lugares onde não valhas
Lugares esmos
Onde as necessidades da carne gritam de maneira ensurdecedora
Onde felicidades aparentes trazem situações cômodas
Sexo como moeda de troca
Energia motora
Corpo em frequência de ondas
Continuarás errando
Sabendo que tudo isso é fugaz
Até o dia que a tua alma exausta
Louca por paz
Pedirá por aquilo
Que só tua faceta saudável traz.

Bem-vindo ao Sem Tarja




Esse é um espaço destinado àqueles que apreciam poesias. 
Aqui publicarei poemas de minha autoria, transbordando emoções comuns a todos nós. Espero tocar o leitor e transportá-lo à realidade do poema, o que pode gerar identificação, sorrisos, lágrimas, dores... Mas, se qualquer um desses sentimentos percorrer vocês, terei atingido o meu objetivo.
Espero que tenham uma leitura agradável, pois faço minhas poesias com muito carinho, sendo elas uma maneira de imprimir a minha alma. Por isso o nome Sem Tarja, pois assim me sinto, exposto. Só que nessa exposição todos nos envolveremos, cada um ao seu modo, de acordo com suas experiências, mas unidos por sentimentos que nos são comuns.
Boa leitura!